Em estudo publicado recentemente, cientistas afirmam que maioria dos cânceres é o resultado da má sorte, em vez de estilos de vida pouco saudáveis ou falhas genéticas hereditárias.
Por anos, especialistas advertiram que os tumores são conduzidos por uma dieta má, pela falta do exercício (causas ambientais), ou por alterações genéticas passadas de pais para filhos (causas hereditárias).
Mas um estudo publicado em março de 2017 na Revista Science alega que a maioria dos cânceres são causados principalmente por má sorte, ou seja, erros na divisão celular (causas replicativas), em vez de pobres escolhas de estilo de vida ou DNA defeituoso.
Através de um modelo matemático, cientistas da Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, concluíram que quase dois terços das mutações que causam câncer são erros aleatórios que aparecem quando o DNA é replicado na divisão celular e, portanto, não são ligados a fatores ambientais ou de herança genética.
O estudo ressalta que, geralmente, duas ou mais mutações genéticas críticas precisam ocorrer para o desenvolvimento de um câncer. Essas mutações que causam o câncer podem ocorrer devido a esses erros aleatórios de cópias do DNA, ao ambiente ou a herança genética.
“É conhecido que devemos evitar fatores ambientais, como fumar, para diminuir nosso risco de ter câncer. Não é tão conhecido, no entanto, que cada vez que uma célula normal se divide e copia seu DNA, pode gerar múltiplos erros”, disse Cristian Tomasetti, professor da Johns Hopkins.
“Esses erros de cópia são uma fonte potente de mutações de câncer que, historicamente, foram subestimadas pela ciência. Esse novo trabalho fornece a primeira estimativa da fração de mutações causadas por esses erros”, completou.
Os tecidos do corpo humano estão em constate divisão celular. Esta divisão é importante para renovar o corpo e reparar danos nas células. Mas às vezes uma proteína no DNA é incorretamente trocada por outra durante o processo de replicação que impulsiona a produção de células cancerosas.
Os cientistas descobriram que quanto mais mutações celulares ocorreram, maior a taxa de câncer, sugerindo que foi o número de erros aleatórios na replicação que estava causando tumores e não forças ambientais externas.
Foi utilizado um novo modelo matemático para mostrar que mutações críticas no pâncreas ocorrem 77% das vezes devido a erros aleatórios, 18% a fatores ambientais e 5% por fatores hereditários.
Já os cânceres de próstata, cérebro ou osso são causados mais de 95% das vezes por mutações relacionadas a erros aleatórios de cópia de DNA. O de pulmão é mais ligado a fatores ambientais: 65% das mutações, principalmente relacionados ao cigarro. Os outros 35% vem de erros genéticos.
Em uma média de todos os tipos analisados, a dupla chegou a essa fração de 2/3: 66% das mutações ocorrem devido a erros de cópia, 19% ao estilo de vida ou ambiente e 5% são hereditários.
Figura retirada do artigo da Science: Etiologia das mutações genéticas em mulheres com câncer.
Para cada um dos 18 tipos de câncer, o esquema retrata a proporção de mutações que são herdadas, devido a fators ambientais, ou devido a erros na replicação do DNA (ou seja, não atribuíveis a hereditariedade ou ambiente). A soma destas três proporções é de 100%. Os códigos de cores para fatores hereditários, replicativos e ambientais são idênticos e vão do branco (0%) para vermelho mais brilhante (100%)